Nunca pensei que o conceito de destruição e creatividade pudessem trazer além de caos, falência. Contudo sei que estas são características que integram o temperamento do Flecha e que o que ele destrói muitas vezes precisa de ser reposto.

O historial de destruição do Flecha, numa fase inicial focou-se na madeira, depois passou para o estuque, evoluiu e passou a centrar-se no plástico, mais tarde mudou e passou a focar-se em objectos esponjosos. Quais as primeiras opções? A cama da Shena e do Murphy, a sua própria cama e a do seu irmão polar – o Himalaias. Comprei a cama dos felinos primeiro, porque foi a primeira a ser destruída. Mais tarde o Flecha roeu a almofada que fazia de cama do Himalaias para se divertir a destruir a esponja. A sua própria cama – onde por vezes se alivia na esperança de que ao ser discreto possa evitar os ralhetes – furou-a, o que nos impossibilita de a lavar na máquina porque sai o enchimento. Pensei então em comprar umas camas de plástico que tornaria mais confortáveis usando cobertores – que sempre são mais fáceis de lavar do que camas de esponja e almofadas de enchimento. Além disso pensei que fossem mais ao seu gosto porque eles gostam de se sentir enroscados e aninhados, prova disto é que por vezes se deitam na minúscula cama dos gatos só para se sentirem mais aconchegados.  Comprei então as camas que foram 25€ cada uma só para os meninos se sentirem mais felizes e confortáveis. Até porque  se eles se sentirem mais felizes e  confortáveis – eu tenho esta esperança – talvez não sintam a necessidade de fazer barulho. Embora a situação do barulho esteja melhor, não há nada como assegurar que continua a melhorar. A avó materna ofereceu também uma almofada para o Himalaias que era excelente e que estava a um preço bastante bom 14€ (muito obrigada!), tendo em conta que as almofadas daquele tamanho são normalmente mais caras,  e a dona achou por bem oferecer uma ao Flecha (19€), essas seriam apenas usadas para dormir com os donos, no quarto, à noite, para evitar que a sua duração fosse diminuída pelos caninos do Flecha ou do Himalaias.

Coloquei as camas e as almofadas nos seus sítios respectivos e levei-os a experimentar as camas de plástico. O Flecha estranhou inicialmente aquele estranho objecto e esticava as patas dianteiras de forma a que não tocassem naquilo que ele pensava ser uma armadilha mortal, mas depois de algumas entradas e saídas, habituou-se. O Himalaias deitou-se de imediato com um deleite e gratidão imensos estampados no seu focinho, algo que lhe é tão característico.

Ao sair de casa sentia o coração apertado só de pensar no que seria daquelas camas de plástico se o Flecha descobrisse esse facto. Cobri-as com imensos cobertores de forma a manter esse detalhe secreto, esperando que fosse o  suficiente para proteger os seus cantinhos de conforto.

Nunca pensei vir a desejar tanto que eles tivessem roído as camas.

Quando cheguei a casa além do lixo remexido, o que é algo relativamente normal, vejo sinais de uma caixa de plástico que reconheci como sendo a que albergava um acessório da bimby. Tive esperança de que O Flecha não a tivesse conseguido abrir, mas todas as esperanças se dissiparam quando vi o que pareciam panfletos do dito objecto, que se revelaram ser na realidade o objecto em si, totalmente desfeito. A cookey – objecto destruído com o valor de 90€ – juntamente com a bimby tinha sido um presente de casamento da minha mãe e era uma espécie de pen que se ligava à bimby e que tornava possível consultar e seguir receitas na própria bimby. Este objecto estava dentro de uma caixa de plástico , que guardei numa de cinco gavetas que tenho na minha cozinha, debaixo de inúmeros panos. Os meus olhos encheram-se de lágrimas. Depois de ralhar com eles ordenei-lhes que ficassem na cama. Normalmente, quando o faço procuram-me passado algum tempo. Nesse dia não o fizeram. Eles sabiam como eu me sentia.

Depois de várias horas, o Murphy espirrou compulsivamente e os seus irmãos canídeos vieram sondar a ocurrência. O Flecha aproveitou a oportunidade para colocar o seu focinho sobre o meu joelho e me lamber a mão em sinal de arrependimento. Ele silenciosamente implorava pelo meu perdão com os seus olhos meigos, carregados de tristeza. O Himalaias juntou-se a ele momentos depois. Com um abraço felpudo, tudo foi perdoado, as pazes feitas e os mimos regressaram.

Tenho que tirar um momento para agradecer ao meu misericordioso e maravilhoso Deus e ao melhor marido do mundo, que me acompanha em todas estas aventuras. Sou uma mulher grandemente abençoada. Agradeço a Deus a bênção que me concedeu através deste homem e através de todos os outros elementos com 4 patas desta família. Agradeço ao meu melhor amigo e companheiro que nestes momentos tem sempre uma postura nobre, paciente e benevolente. É um apoio incrível que me sustém nos momentos menos bons e que torna toda esta viagem mais leve e a enche de amor e alegria. Às minhas crianças de 4 patas, todos vocês enchem o meu coração todos os dias e me ensinam algo novo todos os dias, obrigada por isso. Todos Eles contribuem para a minha felicidade e para o meu crescimento pessoal, ensinando-me sempre com o maior amor e paciência. Um muito obrigada por existirem na minha vida a todos vocês.